terça-feira, 26 de abril de 2011

Governo Dilma começou bem ... mal.


A nova logomarca foi um presentálio. Vê se pode. Carta aberta contesta. Abre o olho Dilma. Leia a carta e sinta o drama. Incentivo a pirataria. Na foto, a logo velha e a nova.
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Carta Aberta ao Governo Federal | ADG Brasil
No último dia 10 de fevereiro, a ministra Helena Chagas tornou pública a nova marca do Governo Federal. De acordo com a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), trata-se de uma doação do diretor de arte Marcelo Kertész, sem custo para o governo.

Enquanto a antiga marca do governo Lula trazia as famílias de tipos Frutiger e Times New Roman – tipografias cujas licenças fazem parte de pacotes de softwares populares, de empresas como Adobe, Corel e Microsoft – a nova marca utiliza a família de tipos Gotham, criada em 2000 pelo type designer Tobias Frere-Jones, e que se tornou famosa pelo uso na campanha presidencial de Barack Obama em 2008.

Uma primeira versão do manual de uso da nova marca (fevereiro 2011) informava que “apenas as fontes da família ‘Gotham’ devem ser usadas” – em especial para a criação de assinaturas de ministérios e secretarias em conjunto com a marca do Governo Federal – e a fonte Verdana era recomendada como alternativa apenas para “programações de internet”.

A família Gotham, composta hoje por mais de 70 fontes, é licenciada exclusivamente pela empresa americana Hoefler & Frere-Jones (H&FJ). As fontes indicadas na primeira versão do manual da marca, para composição das assinaturas conjuntas – Gotham Book e Gotham Bold – são oferecidas pela H&FJ em um pacote de 8 fontes (Gotham 1) a partir de 199 dólares (cerca de 330 reais), com licença de uso para um computador.

Ao tomarem conhecimento da situação, membros da Associação dos Designers Gráficos – ADG Brasil alertaram a Secom sobre o perigoso equívoco de se especificar a tipografia comercial Gotham para a identidade visual do Governo Federal, dada a amplitude do projeto – a ser manipulado por diversos órgãos oficiais, empresas e profissionais de comunicação visual ao longo dos próximos anos. O custo do pacote ‘Gotham 1’, somado à falta de orientação por parte da Secom para o devido licenciamento das fontes, poderia levar à utilização ilegal em massa das mesmas (pirataria), resultando em possíveis penalidades financeiras e custos processuais aos envolvidos.

Em resposta, a Secom informou que oportunamente estaria “promovendo o aprofundamento do projeto e efetuando eventuais ajustes”.

Ciente dos possíveis desdobramentos negativos em situações como esta, a ADG Brasil propõe alternativas:

• Elaboração de tipografia própria – Essa seria a opção mais vantajosa em médio prazo, pois permite solução customizada, exclusiva, distinta e sem custo para fornecedores e parceiros do governo. Além disso, trata-se de um recurso cada vez mais utilizado: recentemente os governos do Chile e da Holanda implementaram novas identidades visuais com tipografias próprias. No Brasil, temos o exemplo da Universidade de Brasília, que em 2008 reformulou sua identidade visual e, para isso, investiu em uma família tipográfica exclusiva composta por 10 estilos, disponível sem qualquer custo para a comunidade acadêmica.

• Adoção de tipografia com licença de uso livre – Hoje em dia existem diversas tipografias gratuitas e de qualidade, regidas por uma licença de uso livre (Open Font License – OFL). Tais tipografias podem ser utilizadas em trabalhos comerciais sem restrições. Trata-se de uma excelente alternativa para projetos de identidade visual que prevejam manipulação tipográfica por um grande número de pessoas ou que possuam restrições orçamentárias.

• Adoção de tipografias de sistema – São muitas as fontes licenciadas junto a sistemas operacionais e softwares gráficos populares, o que facilita sua utilização em projetos públicos de identidade visual, uma vez que um grande número de pessoas já dispõe das mesmas em seus equipamentos.

• Assinaturas conjuntas disponíveis em vetor – Na impossibilidade de se investir em tipografia própria ou na adoção de uma fonte de sistema ou com licença de uso livre, recomenda-se disponibilizar todas as combinações de assinaturas conjuntas, assim como outras possíveis aplicações, em formato vetorial, de forma a evitar a necessidade de manipulação tipográfica da identidade visual por terceiros.

Recentemente, o manual de uso da marca foi modificado. Sua nova versão (março 2011) informa que “na impossibilidade técnica de utilização da fonte preferencial de composição – Gotham – a solução recomendada é a substituição pela família de fonte Verdana” em qualquer situação.

Apesar da mudança refletir a correta preocupação da Secom com o assunto, trata-se de uma solução paliativa e insatisfatória, por não contemplar os aspectos legais de licença e uso das tipografias em questão.

Se o Governo Federal entende que a manutenção de uma tipografia como a Gotham é importante na transmissão de características como “estabilidade, força e segurança”, torna-se imprescindível orientar corretamente parceiros comerciais e demais órgãos públicos em relação aos procedimentos de aquisição de sua licença. Do contrário, não faz sentido insistir em seu uso, visto que a falta de orientação pode induzir à pirataria e dadas as alternativas acima propostas.

Por último, a ADG Brasil lamenta a adoção por parte da Secom de um projeto de identidade visual não remunerado. Trata-se de uma prática negativa, associada a baixos níveis de comprometimento profissional com diversos aspectos técnicos, legais e éticos que devem necessariamente ser considerados em um projeto de tamanha importância para a imagem do governo, como esse em questão.

Atenciosamente,
Associação dos Designers Gráficos – ADG Brasil

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