quarta-feira, 3 de março de 2010

Folheto histórico e texto inédito


Recebo da Fab o folheto - histórico - do Acid Chaos que aconteceu em BC, com Raimundos, Ramones e Sepultura. Aproveito para socializar um capítulo de um livro que não sai da gaveta. Aí está
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Verãozaço. Estou na orla, sol de rachar a cuca. Acabo de comprar o álbum The Real Thing de uma banda chamada Faith no More. Descubro através da FM mesmo. Epic é a musica que está rolando no dial. Fico vidrado na ânsia de quero mais. Não tenho nem onde escutar. Moro longe e fico tarando a capa e todo o list sentado no muro de arrimo da Atlântica, ali próximo da 2400.

Mike Patton é o vocalista. Sabe tudo. Chamam o estilo de funk rock, metal alternativo, metal progressivo, sei lá que porras são essas. Mas que os caras mexem com a estrutura do rock, com certeza mexem. Chego em casa e devoro o álbum. Descubro outras pérolas quase que no último volume: Falling to Pieces, Edge of the World, From out of Nowhere, todas assinadas por Patton, que mais tarde fico sabendo The Real Thing é o álbum de estréia do figuraça na banda. Bom demais!

Passam-se dois anos. Faz pouco tempo que crio um jornal com uma amiga. Um semanário onde fiquei fazendo de tudo um pouco por quatro anos até encher o saco. Mas isso não vem ao caso. Recém criado o jornal fico sabendo que o show da banda Faith no More está confirmada para acontecer em Curitiba.

- Ah! Impossível perder!

Pego minha cara metade e sigo rumo a capital paranaense. Acho que é uma área para exposições. Cheio de gente. Depois de algumas horas de espera, um jogo de luzes anuncia a chegada do Faith. Surgem apenas as silhuetas e uma figura vestida de terninho branco e chapéu panamá. Patton arrebenta. A banda detona um show inesquecível. Saímos plenamente saciados de nosso apetite.

Antes de iniciar o show, enquanto esperávamos, desperta uma curiosidade. Há um som ambiente que não me é estranho e que há muito tempo não ouvia. É Ramones. Vou até o cara da mesa e pergunto:

- What is this?
- Ramonesmania! Yeahh!, responde o carinha com entusiasmo de fã.

A última audição de Ramones havia sido há 10 anos, justamente no US Festival, na California. Volto de Curitiba e vou direto a loja de discos comprar o álbum duplo com um desfile de sucessos da banda norte-americana. Por um bom tempo é audição obrigatória no meu pick up. Nutro uma paixão tardia pela banda, bem tardia! Começo a comprar álbuns antigos da banda. Me informo mais sobre os Ramones e compro todos os álbuns que são lançados no modernoso CD, mídia que viria substituir o vinil. Mondo Bizarro e Acid Eaters (esse só de covers) é ainda da época do vinil.

Até que fico sabendo que a banda estará na minha cidade. Mentira. Belisca, isso não é verdade. É verdade. Dois anos depois de redescobrir Ramomes num show do Faith, Joe, Johnny, CJ e Marky estão numa tour pelo Brasil junto com Sepultura e os meninos do Raimundos. O slogan da batizada Acid Chãos Tour: “Este show irá tirar você do sério”.

Imperdível. Vou cobrir para o meu jornal. Fico uma pilha de nervoso. Os Ramones não dão trégua. Não consigo chegar perto deles. Entrevista só com as duas bandas brasileiras. Então tá. Não posso falar? Mas posso tocar. Credencial na mão, vou direto pro chiqueiro e de lá não saio até que comece o show.

Bem. Antes todo o clima do show. Sigo para o local no início da tarde. Uma fila gigantesca começa a se formar na entrada do pavilhão. Sol de abril. A garotada, na sua grande maioria, toda vestida de preto. Não há outra razão. As figuras de suas bandas preferidas estampadas no peito. Não precisa dizer quais as bandas de maior preferência. A fila aumenta, quase dobre o pavilhão. Manifestações típicas de fãs e nada dos portões abrirem.

- Não acredito!, ouço o berro histérico de um fã ao ver a chegada dos Ramones no pavilhão.

O clima ficou insustentável. A multidão força a barra e quebra com todo o sistema de segurança montado para o show. A porta principal, de vidro, vem abaixo. Parece ser uma conquista do público que lota o pavilhão.

Vou até os camarins. Consigo engrenar um papo com Rodolfo e Caniço. Nada dos Ramones. Que tristeza.

“A gente vai adentrar todos os buracos que a gente puder, além dos ouvidos”, arremata o vocalista Rodolfo, nos camarins.

Termino a entrevista e sigo pro chiqueiro. Entra o Raimundos com o álbum de estréia fresquinho e mostrando aquela novidade toda de misturar rock com baião, forró e outras coisas nacionais. Gurizada vibra com Puteiro em João Pessoa e Selim (imagina essas letras despudoradas!!), um prévia do que tinha por vir em seguida.

Estou no chiqueiro. Os seguranças quase que não conseguem segurar a fúria da gurizada quando sobem ao palco Joe, Johnny, CJ e Marky. Joe, estático em frente ao pedestal. Não fala nada e dá a senha: one, two, three, four ... Meu coração dispara, a platéia explode, dança e canta todos os clássicos petardos dos Ramones. Não sei se fotografo ou subo no palco. Estou a alguns pouquíssimos metros de Joe, quando estico o braço alcanço seus pés. Finalmente a adrenalina estabilizou e saio clicando os quatro Ramones. Inesquecível!

Termina o show. Falta o Sepultura, com direito a Max Cavalera no vocal. Chega a cidade com uma referência de peso, a de melhor banda brasileira de 1993. Saio do chiqueiro e não retorno mais. Fotografo de longe o show porque os metaleiros invadem o chiqueiro. Não há mais chiqueiro, somente o som pesado do Sepultura. Delírio da gurizada de preto. O vozeirão de Max ecoa pelo pavilhão. Um show histórico. Quem foi, foi, quem não foi não acredita que existiu.

3 comentários:

Fabi disse...

Putz, Bola, que lindo! Eu tava lá!! beijão. (aguardo o livro)

Marcus disse...

Eu ia ir no show, acabei viajando e nao pude ir, tinha ate camiseta comprada e tudo, hehehe, O Kiko Novaes, o Claudioa Diel e o Figue foram, era pra todos nos termos ido juntos.....foi uma grande perda de minha parte, mas....

pelo menos tu provou aqui pro moleque da padaria nao duvidar dos mais velhos, hahahaha

peterlo disse...

EU ACREDITEI, E EU FUI!!
FOI REALMENTE UMA COISA FANTÁSTICA, BOAS LEMBRANÇAS.